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CAPA

PONTO DE PARTIDA (pág. 1)
Luiz Alberto Bacheschi*


ENTREVISTA (pág. 4)
Jairo Bouer


AMBIENTE (pág. 9)
As comunidades quilombolas remanescentes no Estado de São Paulo


CRÔNICA (pág. 12)
Pasquale Cipro Neto*


CONJUNTURA (pág. 14)
Conselheiros analisam tratamento de saúde oferecido a estrangeiros


SINTONIA (pág. 19)
Renato Azevedo Júnior*


DEBATE (pág. 22)
Pesquisadores discutem estágio atual das pesquisas com células-tronco


GIRAMUNDO (pág. 28/29)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e da atualidade


PONTO COM (pág. 30)
Acompanhe as novidades que agitam o mundo digital


EM FOCO (pág. 32)
Charges e desenhos sobre o ensino e a prática médica


CULTURA (pág. 34)
Marcelo Secaf *, presidente do conselho da Associação Pinacoteca


TURISMO (pág. 38)
Parque Estadual do Jalapão, em Tocantins


HOBBY (pág. 44)
Caratê: melhor concentração e controle das emoções


LIVRO DE CABECEIRA (pág. 47)
Obra da psicóloga e psicoterapeuta francesa Marie de Hennezel


POESIA( pág. 48)
Soneto de Machado de Assis


GALERIA DE FOTOS


Edição 54 - Janeiro/Fevereiro/Março de 2011

CRÔNICA (pág. 12)

Pasquale Cipro Neto*

Doutor Eduardo (e outros doutores)

No primeiro semestre de 2010, tive a honra de ser convidado pela Folha de S. Paulo para “cronicar” a Copa do Mundo. Meu trabalho na África não seria o de escrever sobre os jogos, as seleções, as táticas, os atletas. “Queremos a Copa sob o olhar Pasquale”, disse-me Sérgio Dávila, editor-executivo do jornal.

Feitos todos os ajustes na minha agenda (gravações na Rádio e na TV Cultura, na Rádio Globo etc., etc., etc.), aceitei o convite e fui para a África do Sul no dia 8 de junho. Eu já sabia que lá encontraria velhos companheiros da imprensa, entre os quais o querido Juca Kfouri, ex-colega de Cultura e colega de Folha e de Sistema Globo de Rádio. Sabia também que encontraria o ex-jogador Tostão, brilhante colunista da Folha.

Pois bem. Eu nunca tinha conversado com Tostão. Ele já me citara nas suas colunas, e eu a ele nas minhas. Quando cheguei à recepção do hotel em Joanesburgo, lá estava o grande craque, um dos meus ídolos da inesquecível Seleção de 70. Depois de um abraço afetuoso, começou uma agradável e proveitosa convivência de 29 dias.
 
Tostão jogou profissionalmente de 63 a 73, quando, depois do segundo descolamento da mesma retina, foi obrigado a encerrar a carreira. Que fez ele? Voltou para a escola – para o cursinho, mais precisamente. O agora ex-craque enfrentou o vestibular para medicina na UFMG, foi aprovado, formou-se (em 1981) e acabou tornando-se médico e professor.

Aos 63 anos, o doutor Eduardo Gonçalves Andrade já não exerce a medicina, mas... Médico uma vez, médico para sempre. Pois era aí que eu queria chegar. O doutor Eduardo levou para a África do Sul uma minifarmácia, com a qual resolveu muitos problemas da nossa turma. Como fazia um frio dos diabos, muita gente ficou doente. A quem recorrer para os primeiros socorros? Ao doutor Eduardo, que com toda a calma do mundo examinava, detectava o mal, receitava (e dava) o medicamento certo. E todos sararam!

Um dos colegas teve complicações mais sérias. Tostão, digo, o doutor Eduardo não hesitou: acompanhou o jornalista ao hospital e verificou de perto o procedimento adotado pelos colegas sul-africanos (bem avaliado por ele, por sinal).
A mesma delicadeza que vi no doutor Eduardo vejo no colunista Tostão, que escreve sobre “a coisa mais importante entre as menos importantes” (como dizia Nélson Rodrigues a respeito do futebol) com extrema elegância e sensibilidade – vejam-se as constantes referências literárias e filosóficas que ele faz em seus textos.

O jogador Tostão (um verdadeiro artista) também era extremamente delicado. Os mais velhos certamente se lembram de uma das mais belas pinturas que o futebol já nos deu – o antológico gol do Brasil contra a Inglaterra na Copa de 70, resultado de uma verdadeira trama, em muito parecida com lances de um jogo de xadrez. Pois essa trama começou com movimentos mágicos do grande Tostão, que, depois de pintar o sete pela esquerda, passou (sem olhar e quase caindo) a pelota para Pelé, que, por sua vez, também sem olhar, passou para Jair, que... Que gol, meu Deus!

Para mim, o futebol sempre foi o que esse lance representa: arte, arte pura, arte nobre, que envolve corpo, mente, alma. E não é que os danados dos médicos andam no futebol e em outros mundos da arte? Se ficarmos no futebol, encontraremos Tostão, o genial Sócrates, o histórico Afonsinho (aquele da música “Meio de Campo”, de Gilberto Gil – Afonsinho foi o primeiro jogador a obter na justiça o passe livre), entre outros.

Se passarmos para a música popular, encontraremos Noel Rosa e Belchior (que por pouco não concluíram o curso de medicina), Paulo Vanzolini (“Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”), o psiquiatra Aldir Blanc (que, entre outras, escreveu a genial letra de “Incompatibilidade de Gênios”, que é pura piada sobre a tragédia humana), o uruguaio Jorge Drexler (que compôs a tocante “Al Otro Lado del Río”, do filme “Diários de Motocicleta”, que retrata a vida de outro médico, Che Guevara).

Na literatura, Deus meu! A lista é ampla: o grande Jorge de Lima (grande como escritor e como médico – nunca se negou a atender nenhum dos perseguidos pela ditadura Vargas, o que, naquele tempo, podia significar a cadeia), Guimarães Rosa, Pedro Nava, Moacyr Scliar (médico sanitarista e professor em Porto Alegre), Miguel Torga (um dos grandes poetas portugueses do século 20).

E na política? Xi! Melhor deixar para lá, do contrário eu teria de citar certas figuras... Mas vou citar um, para valer: Juscelino Kubitschek, um dos nossos maiores estadistas, senão o maior.

Termino com um trecho de uma entrevista que Moacyr Scliar concedeu ao Jornal da Unicamp:

“JU – O senhor diz na súmula de sua palestra que as humanidades, ‘aí compreendidas a literatura, línguas, filosofia e arte, precisam do rigor lógico da ciência’, assim como a ciência ‘precisa da flexibilidade, da liberdade de imaginação que resulta da prática humanística’. Em que sentido a literatura, para ser específico, poderia servir-se do ‘rigor lógico da ciência’?

Scliar – Posso dar um exemplo pessoal. Acho que o texto científico prima pela objetividade, pela concisão e pela precisão. Essas qualidades, paradoxalmente, ajudam muito no texto literário. A escrita de um texto ficcional não necessariamente rejeita essas qualidades que caracterizam o texto científico. Não existe aquilo, que no passado se falava, de duas culturas separadas: a literária e a científica. Na verdade, são dois compartimentos de uma mesma cultura. Acho que o meu texto, de uma maneira geral, se beneficiou muito dessa leitura dos textos médicos e dos textos científicos.”

Acertou em cheio, doutor Scliar.
Até a próxima. Um abraço a todos.


*Professor de português, colunista do jornal Folha de S. Paulo, idealizador e apresentador do programa Nossa Língua Portuguesa da TV Cultura e Rádio Cultura.

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