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Renato Azevedo Júnior - Presidente do Cremesp


ENTREVISTA (pág. 4)
Heiner Flassbeck, economista e diretor da Unctad


SINTONIA (pág. 9)
José Ricardo de C. M. Ayres*


CRÔNICA (pág. 12)
Antonio Prata*


CONJUNTURA (pág. 14)
Os problemas da população de rua


DEBATE (pág. 18)
Haino Burmester e Laura Schiesari


MÉDICOS NO MUNDO (pág. 24)
O atendimento da população em regiões de alto risco


SUSTENTABILIDADE (pág. 28)
Alerta para o consumo de alimentos contaminados


GIRAMUNDO (págs. 30 e 31)
Curiosidades da ciência e tecnologia, da história e atualidade


PONTO COM (págs. 32/33)
Acompanhe as novidades que agitam o mundo digital


EM FOCO (pág. 34)
Sherlock Holmes, um doutor detetive


LIVRO DE CABECEIRA (pág. 37)
Sugestão de leitura de Krikor Boyaciyan*


HOBBY (pág. 38)
Esporte já não é exclusivo do universo masculino


CULTURA (pág. 40)
Arte urbana conquista espaço internacional


GOURMET (pág. 45)
Arroz indiano


POESIA( pág. 48)
Ana Cristina César


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Edição 57 - Outubro/Novembro/Dezembro de 2011

CONJUNTURA (pág. 14)

Os problemas da população de rua

A saúde passa longe das ruas

Os desabrigados da capital sofrem de problemas psiquiátricos e têm maior risco de desenvolver doenças cardiocirculatórias e tuberculose. Especialistas defendem que os médicos devem ir até eles

Milhares de pessoas, motivadas pelos mais variados problemas, não tiveram outra escolha a não ser adotar as ruas paulistanas como moradia. E essa população aumenta a cada ano. De acordo com o último censo da população em situação de rua da cidade de São Paulo, realizado entre 2009 e 2010, pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da USP, existem 13.666 pessoas nessas condições. O estudo constatou que, nos últimos dez anos, o número de desabrigados da capital aumentou 63%.

A maioria (51,8%) passa a noite em albergues, abrigos ou centros de acolhimento. O restante pernoita nas ruas. São pessoas que dormem em calçadas, praças, jardins, terrenos baldios e embaixo de viadutos, entre outros lugares públicos. Estão concentrados no centro de São Paulo, principalmente nas regiões da República (23,8%), Sé (18,1%) e Santa Cecília (4,7%).

Sem uma moradia segura e adequada, essas pessoas não conseguem manter hábitos de higiene corretos. Além disso, como resultado do abuso de álcool e drogas, e do constante convívio com a violência das ruas, elas têm a saúde exposta aos mais diversos agravos.

Saúde mental
“As doenças mais frequentes entre os moradores de rua são as de ordem psiquiátrica”, afirma o pneumologista Carlos Roberto Ribeiro de Carvalho, professor da Faculdade de Medicina da USP e um dos pesquisadores responsáveis por um estudo inacabado sobre a prevalência de morbidades clínicas em moradores de albergues da capital.

Outro pesquisador que participou desse estudo, o pneumologista André Hovnanian, ressalta que o conhecimento sobre a saúde da população em situação de rua é escasso. “Por isso, a resposta para esta questão vem baseada em estudos norte-americanos e europeus, que apontam como mais prevalentes as doenças psiquiá­tricas, infectocontagiosas e cardiovasculares.”

Entre os transtornos psiquiátricos, ele cita a depressão, a esquizofrenia – principalmente nas mulheres – e quadros psicóticos, associados ou não à dependência de álcool ou drogas. “Muitos deles vão para a rua porque tiveram problemas familiares e de socialização”, diz Carvalho. “Então, eles são afastados do ambiente familiar.”

Segundo o estudo da Fipe, é comum o uso de substâncias psicoativas pelos moradores de rua. Entre uma amostra aleatória da população de desabrigados do centro da capital, 74% dos entrevistados admitiram consumir álcool, drogas ou ambos. Considerando apenas as pessoas entre 18 e 30 anos, esse número chega a 80%.

O álcool, além de ser ingerido por 65% dessa população, é utilizado principalmente pelos mais velhos. Por outro lado, 37% dos moradores de rua usam drogas, mas o vício alcança a maioria dos jovens até 30 anos – metade deles em crack.

O psiquiatra e vice-presidente do Cremesp, Mauro Aranha, explica que, além dos problemas mentais resultantes do uso nocivo de álcool e drogas, os moradores de rua também sofrem de transtornos psicóticos crônicos, com recorrências de surtos e agravamento do quadro pela profilaxia inadequada. “Esses quadros psicóticos se tornam mais graves quando não há suporte social adequado”, pondera.

Outras doenças
A população em situação de rua não sofre apenas com os problemas psiquiátricos. Homens acima de 50 anos têm aproximadamente duas vezes mais chances de sofrer de doença coronária, “considerando que muitos são tabagistas, diabéticos e hipertensos mal controlados”, explica Hovnanian.

Segundo ele, entre as doenças infectocontagiosas mais comuns que atingem os desabrigados estão a Aids, a tuberculose pulmonar, as infecções por vírus da hepatite B e C e as cutâneas.

De acordo com um estudo do sociólogo Rubens Adorno, da Faculdade de Saúde Pública da USP, a incidência de casos de tuberculose é 60 vezes maior entre os moradores de rua da capital paulista do que no restante da população.

Também há influência do ambiente violento das ruas. Muitos deles costumam brigar por territórios, lembra Carvalho: “principalmente quando estão alcoolizados. Os ferimentos e traumatismos no rosto, nos braços e nas pernas são as ocorrências mais comuns”, afirma.

Atendimento
Hovnanian ressalta que, para organizar o atendimento aos moradores de rua, é necessário saber quem forma essa população, como vive e qual a sua condição de saúde. “Sabemos quase nada. Não há política pública que sobreviva sem responder a essas questões. Supondo que estamos diante de doenças e problemas crônicos, precisamos estudá-los, entendê-los, para depois passar à formulação de políticas de saúde. Sem diagnóstico, não há tratamento nem prognóstico”, diz.


População em situação de rua precisa de cuidado diferenciado no atendimento à saúde

A população em situação de rua precisa de cuidado diferenciado, na opinião de Aranha. “Não só pelas precárias condições em que vivem”, ressalta, defendendo que a autonomia desses pacientes deve ser respeitada. “Eles podem decidir se querem ou não receber tratamento, exceto quando não são capazes de julgar seu estado mórbido.”

Para atender a população em situação de rua da capital, a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo implantou o programa Estratégia Saúde da Família Especial (ESF). De acordo com a secretaria, esse modelo de assistência tem a finalidade de prevenir, detectar e tratar os problemas de saúde mais frequentes, promovendo acesso ao sistema de saúde e a reinserção social.

Iniciado em 2004, com o projeto A Gente na Rua, nas Supervisões Técnicas de Saúde dos bairros Sé, Pinheiros e Mooca – em parceria com o Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto – o programa possui, atualmente, 27 equipes de saúde em 11 Unidades Básicas de Saúde (UBS) espalhadas pela cidade de São Paulo. Ao todo, a rede de serviços da capital conta com 436 unidades de atendimento.

Além de consultas médicas, as ações de saúde da ESF Especial abrangem outras iniciativas nos âmbitos social, cultural e ambiental, em cada território sobre o qual tem responsabilidade sanitária.

Formação
Para Carvalho, as faculdades preparam os médicos do ponto de vista técnico, mas não proporcionam o entendimento das características específicas dessa população. “Uma coisa é você atuar pontualmente no problema mais grave que o paciente tem naquele momento, outra é atender o indivíduo como um todo.”

“As faculdades de Medicina têm informado muito e formado pouco”, diz Hovnanian. Para o pneumologista, o conhecimento moderno, calcado no modelo reducionista, vem sofrendo um processo de compartimentalização, e a Medicina, como grande área do conhecimento, é o melhor dos exemplos.

 “Não é o paciente que vai ao médico, mas este ao suposto paciente”, diz o psiquiatra. Essa é a mesma linha de raciocínio de Hovnanian. “O caminho deve ser no sentido contrário: o sistema de saúde ir até a rua.”

Hovnanian, juntamente com o pneumologista André Nathan, supervisionou a Liga de Assistência ao Indivíduo em Situação de Rua, um grupo de extensão universitária formado por estudantes da Faculdade de Medicina da USP que desenvolviam ações de saúde em benefício dessa população em São Paulo.

O projeto esteve em prática durante dois anos, entre 2008 e 2010. Os futuros profissionais prestavam atendimento médico direto no Centro de Acolhida Portal do Futuro, localizado no bairro da Luz, em São Paulo. Eles prescreviam exames de laboratório e medicações, e encaminhavam as ocorrências graves para a UBS da Barra Funda ou para o Hospital das Clínicas. Também ofereciam atendimento de fisioterapia motora. “Tentamos trazer especialistas da área da fisiatria, infectologia e psiquiatria, sem sucesso”, explica Hovnanian.

Na maioria das vezes, não houve resistência dos albergados em receber o atendimento, segundo o médico e pesquisador. “O ponto está na adesão ao tratamento, mais uma questão que soma complexidade à formulação de políticas de saúde. Afinal, dar o remédio é fácil. O difícil é conquistar o entrevistado”, conclui.


(Colaborou Bruno Martins)


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