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Roberto Sávio é o convidado especial desta edição


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Edição 22 - Janeiro/Fevereiro/Março de 2003

ENTREVISTA

Roberto Sávio é o convidado especial desta edição

Mídia: um olhar crítico sobre a imprensa

“A eleição de Fernando Collor, um desconhecido até os meios de comunicação decidirem lançá-lo candidato à presidência do país, dá uma idéia de como a imprensa do Brasil tem uma atuação não profissional.”

O jornalista ítalo-argerntino Roberto Sávio* é diretor da agência internacional de notícias Inter-Press Service, uma instituição diferenciada das demais, com enfoque global da notícia, que atua em mais de cem países e distribui informações a mais de três mil veículos de comunicação. Também é um dos mentores da Organização Não-governamental (ONG) Media Watch Global (Observatório Global da Mídia), entidade que vem ganhando força no mundo todo com a proposta de acompanhar criticamente as notícias produzidas pelos meios de comunicação, em busca de qualidade, transparência e ética na informação. À época que Sávio deu esta entrevista, o MWG se organizava para ampliar e institucionalizar suas propostas em vários países, por meio do intercâmbio com vários segmentos representativos da sociedade partidários da idéia. Esse encontro faz parte da pauta do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, previsto para ser realizado poucos dias após o fechamento da revista.

SER MÉDICO. O que é o Observatório Global da Mi-dia e quais são os seus objetivos?
ROBERTO SÁVIO. É uma organização internacional com atenção dirigida à situação dos meios de comunicação diante do problema, cada vez mais grave, de falta de qualidade, de profissionalismo e de instrumentalização desses meios. A informação, eletrônica ou escrita, é um mecanismo de uma via só: um grupo de jornalistas envia um grande número de dados a um grande número de leitores e espectadores. Porém, o trabalho jornalístico deveria sustentar a existência dos meios de comunicação com informação de qualidade.

SER. Quais são as dificuldades que impedem a informação de qualidade?
SÁVIO. Basicamente, existem três barreiras. Primeiro, a informação tem uma função comercial inexorável, que nada tem a ver com qualidade. Escrever sobre alguém conhecido vende mais do que sobre alguém desconhecido; um fato excepcional vende mais do que um normal. Se a Imprensa não cobre o que é realmente importante, e sim o que vende melhor, ela tende a difundir só acontecimentos, mas para entender o mundo é preciso conhecer todo o processo.

Segundo, a informação sobre um fato local vende mais do que o distante – três mortos da sua cidade vendem mais jornal do que 15 mil na China. Isso cria uma espécie de cadeia de informação que prioriza, nessa ordem, primeiro tua cidade, depois teu país ou região, depois o Norte do planeta, os Estados Unidos e Europa e, por último, o resto como África e Ásia. Esse sistema funcionava bem até a chegada da globalização. Hoje, o que acontece em qualquer parte do mundo tem algo a ver com nossa vida, exigindo um trabalho profissional capaz de explicar ao leitor esses mecanismos de interdependência. Porém, o jornalismo está cada vez mais provinciano nesse sentido.

Em terceiro lugar, a chamada liberdade de imprensa só funciona para o proprietário do veículo de comunicação, que é um estabelecimento comercial do qual o seu dono quer tirar proveito vendendo mais. Outro fator importante: os donos dos veículos não são neutros politicamente e fazem parte do jogo de poder. Não é à toa que a imprensa é chamada de quarto poder. Há muita relação entre o nível cultural e cívico de um país e a manipulação da imprensa. Em países menos desenvolvidos o uso dos meios de comunicação para fins políticos ou comerciais é quase uma normalidade. Nessa situação, os jornalistas quase sempre acatam as regras do jogo sem defesa na correlação de forças com quem lhes paga. Em geral, o jornalista consegue ter alguma autonomia só no final de uma brilhante carreira, mas sempre aceitando algumas regras do jogo.

SER. Quais são as perspectivas do Observatório Mundial da Imprensa?
SÁVIO. Concretamente, será uma equipe interdisciplinar de jornalistas, acadêmicos da informação e representantes dos leitores que vão analisar a imprensa escrita, rádio e televisão, vigiando para que a informação seja transparente e baseada na ética, denunciando vinculações a interesses comerciais ou políticos e suas implicações em desinformação ou manipulação. Isso será feito sem espírito de censura ou perseguindo alguém, mas respaldando os jornalistas para que trabalhem com a maior liberdade e autonomia possível.

SER. Como e em que países do mundo já há uma atuação nesse sentido? Existe um embrião do Media Watch no Brasil?
SÁVIO. A idéia foi lançada durante o Fórum Social Mundial de 2002 e, desde então foram criados alguns núcleos nacionais interessados na idéia. Já existem núcleos nacionais no Brasil, Argentina, Estados Unidos, Venezuela, Itália, Inglaterra e Uruguai, mas a grande estruturação irá acontecer agora em 2003, durante o próximo Fórum Social Mundial em Porto Alegre, devido ao intercâmbio entre as partes interessadas e aos acordos finais sobre sua institucionalização.

SER. O que o sr. acha da imprensa latino-americana e, em particular, da brasileira? A atuação da imprensa venezuelana é um caso à parte no continente?
SÁVIO. A diferença entre a imprensa dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos é menor do que parece. Existem três variantes que têm um papel importante nesse sentido. A primeira refere-se ao potencial de mercado em torno do número de leitores, ouvintes e espectadores que, especialmente na imprensa escrita, está vinculada à educação e cultura. A segunda refere-se à tradição jornalística, que é mais ou menos frágil, segundo o nível cultural do país. O terceiro é o nível de interferência do poder. Mas essas três variantes não modificam aqueles problemas estruturais da informação comercial: sempre ter famosos como protagonistas, priorizar acontecimentos locais e os fatos espetaculares, quando não os escandalosos. A qualidade da imprensa brasileira, em boa parte, é causa e efeito da falta de conhecimento da realidade nacional e mundial por parte dos leitores.

Em relação ao nível profissional, a imprensa brasileira é melhor que a de outros países latino-americanos, mas o grau de interferência do poder é mais acentuado. A grande maioria dos meios de comunicação está em mãos de menos de 10 pessoas. A eleição de Fernando Collor, um desconhecido até os meios de comunicação decidirem lançá-lo a candidato à presidência do país, dá uma idéia de como a imprensa do Brasil tem uma atuação não profissional. Essa situação se repete, com diferentes matizes, em toda a América Latina. O caso da Venezuela é o mais evidente. Os meios de comunicação estão em uma campanha de morte contra o presidente Hugo Chávez, conclamando aber-tamente um golpe de Estado. Certamente, essa não é a função da mídia.

SER. Quem pode fazer parte da ONG?
SÁVIO. Os representantes dos leitores, por meio de organizações de usuários, é que vão identificar os casos. Os jornalistas e os acadêmicos têm de elevar as análises do Observatório a um nível acadêmico e científico. Falta um outro segmento, o dos donos dos meios de comunicação, que serão convidados. Mas temo que, ao contrário dos jornalistas, os donos não serão simpáticos a um sistema de avaliação que não seja só o de mercado. Haverá uma instância internacional do Observatório e agências em esferas locais, organizadas com base em suas realidades, que não serão, necessariamente, iguais em todo o mundo.

SER. Como conciliar a liberdade da imprensa com um observatório ético da mídia?
SÁVIO. A liberdade de imprensa é exatamente o que o observatório ético quer respaldar. Liberdade de imprensa não é liberdade de propriedade dos meios de comunicação, mas do trabalho de jornalistas com base na busca da qualidade da informação. O MGW dá espaço para abrir um diá-logo com os meios de comunicação, buscando um trabalho conjunto. Cabe aos empresários de comunicação aceitar que nosso trabalho contribuirá para melhorar os próprios meios ou fechar-nos as portas.

SER. De que maneira o MGW pretende envolver a sociedade em seu trabalho? A grande imprensa, certamente, não dará espaço para o Media Watch. Como os senhores pretendem divulgar seu trabalho para a sociedade?
SÁVIO. O uso da Internet, que é infinito e sem custo, é um dos meios para se chegar à sociedade civil, hoje cada vez mais participativa. Chegaremos diretamente aos leitores organizando circuitos diretos. O crescimento do uso da Internet, especialmente entre jovens, também permitirá a criação de uma nova geração de leitores.

SER. O sr. perguntou, em um de seus textos a respeito do Média Watch, se não seria uma luta contra moinhos de vento. Se fosse, mesmo assim valeria a pena?
SÁVIO. Há uma forte tendência a ver as batalhas difíceis e inovadoras como algo tão grandioso, contra moinhos de vento, que a luta seria em vão. Num conto medieval de Sri Lanka, país ao sul da Índia, um jovem de um pequeno povoado atirava flechas nas estrelas. Todos o achavam louco, mas ele continuava treinando com seu arco todas as noites, até que um dia o rei lançou um concurso de arqueiros e o jovem venceu-o porque atirava a uma maior distância. O grande problema de nossas sociedades é que perdemos a capacidade de indignação. Espero que o trabalho do Observatório da Imprensa devolva ao cidadão parte dessa capacidade.

* Sávio é Secretário Geral da Sociedade pelo Desenvolvimento Internacional, Diretor Geral da Agêncoa Internacional de Notícias Inter-Press Service (IPS), entre outros.

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