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Álcool e direção: dupla perigosa


HISTÓRIA DA MEDICINA (págs. 29 a 31)
Primeiros médicos no Brasil


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Edição 67 - Abril/Maio/Junho de 2014

HISTÓRIA DA MEDICINA (págs. 29 a 31)

Primeiros médicos no Brasil

Médicos pioneiros

José Marques Filho*

Documentos pouco confiáveis e informações controversas caracterizam o cenário para uma visão histórica dos primeiros esculápios em solo brasileiro. Entretanto, com certa segurança, podemos afirmar que os primeiros médicos que pisaram ou atuaram em solo brasileiro foram Mestre João, integrante da frota de Cabral; Jorge de Valadares, integrante da comitiva de Tomé de Souza; e Jorge Fernandes, membro da comitiva de D. Duarte da Costa. Todos, cristãos-novos.

O êxodo de judeus e cristãos-novos para o Brasil é fartamente documentado na literatura e ocorreu, principalmente, quando surgiram rumores que D. João III tentava implantar a Santa Inquisição em Portugal. O temor da perseguição, que os judeus conheceram bem na Espanha, fez com que procurassem terras distantes para viver e exercer seus ofícios.

O pai de D. João III, o rei D. Manoel, e seu antecessor, D. João II, aproveitaram habilmente a capacidade e os conhecimentos dos fugitivos judeus sefarditas (ou sefaradistas) da Espanha, que participaram ativamente do projeto de navegação e das descobertas de novas terras, através da elaboração de mapas, astrolábios e cálculos náuticos. Judeus, meio judeus e cristãos-novos vieram em grande número para povoar a nova colônia portuguesa, com suas capitanias, desde a de Pernambuco, ao Norte, até a de São Vicente, ao Sul. Entre eles estavam os primeiros profissionais da Medicina no Brasil.

Mestre João
Dentre os três primeiros médicos que pisaram em solo brasileiro, os dados mais confiáveis são os de Mestre João, em virtude da carta enviada ao rei D. Manoel, na época do descobrimento do Brasil. Espanhol, oriundo da Galícia, seu nome verdadeiro nome era Joan Faras. Foi o primeiro médico e cientista a atuar no País. Era também astrônomo, astrólogo, cosmógrafo, físico (como os médicos eram então conhecidos) e cirurgião particular de D. Manuel, rei de Portugal. Intitulava-se bacharel em Artes e Medicina. Segundo Henrique Simões, o exercício de tantas “artes” por uma só pessoa deve-se ao fato de ser comum, naquela época, médicos e cirur­giões cultivarem a astronomia, a alquimia, a astrologia, a cosmologia, a física e a cosmografia.


Mestre João


Além de ser o médico oficial da frota de Pedro Álvares Cabral, Mestre João tinha uma missão muito importante – descobrir, por meio da observação das estrelas, que terra era aquela e em que latitude se localizava. Especula-se que Mestre João poderia fazer parte do grupo de refugiados judeus que fugiram para Portugal em virtude da perseguição da Santa Inquisição espanhola ou pertenceria a uma das 600 famílias abastadas que conseguiram licença de permanência no território português, por meio de pagamento em ouro à coroa.

Carta de Mestre João e astrolábio similar ao utilizado pelo médico português


Ficou mais conhecido quando da publicação da “Carta do Mestre João”, descoberta somente no século 19 pelo historiador Francisco Adolfo Varnhagen, na Torre do Tombo, em Portugal, e publicada no Brasil, pela primeira vez, na revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1843.

Na carta, escrita em um misto de espanhol e português quinhentista, ele dá ciência ao rei do “descobrimento” ou do “achamento” do Brasil, o médico informa, indiscretamente, que para saber sua localização bastava consultar o mapa de Pero Vaz Bisagudo – nunca publicado –, no qual já constaria a localização da nova terra encontrada.

Mas o feito mais notável desse pioneiro da Medicina no Brasil se deu no campo da astronomia. Ao observar as estrelas que apareciam no céu da Bahia, uma constelação de extraordinária beleza chamou sua atenção. Estudando a disposição dessa constelação, Mestre João a comparou a uma cruz e a batizou então de “Cruzeiro do Sul”:

 

“... estas estrelas, principalmente as da cruz, são grandes quase como as do carro; e a estrela do polo antártico, ou Sul, é pequena, como a do Norte, e muito clara, e a estrela que está em cima de toda a cruz é muito pequena”.

 

Os europeus já tinham conhecimento de sua existência. O primeiro a descrevê-las foi o grego Claudio Ptolomeu, no ano 130 de nossa era. Também os nativos da nova terra a conheciam, denominando-as de Pauí-Pódole. Mas ao referir-se a elas como “a Cruz”, Mestre João – segundo Eduardo Bueno – tornou-se o padrinho da mais famosa constelação do hemisfério austral.


Chegada de Tomé de Souza ao Brasil

Sabe-se que o médico desceu apenas uma vez à praia com o objetivo de cumprir sua função de medir a latitude da nova terra e o fez com seu grande astrolábio de madeira. Mediu a altura do sol e calculou a latitude de aproximadamente 17 graus (considerada bem precisa, comparada com o valor aceito hoje – 16º 21’ 22’’). O motivo de ter descido à praia apenas uma vez está bem detalhada em sua missiva ao Rei:

 

“...saberá Vossa Alteza que, acerca das estrelas, eu tenho trabalhado o que tenho podido, mas não muito, por causa de uma perna que tenho muito mal, que de uma coçadura se me fez uma chaga maior que a palma da mão; e também por causa de este navio ser muito pequeno e estar muito carregado, que não há lugar para coisa nenhuma”.

 
Em relação ao “Cruzeiro do Sul”, mestre João explica ao rei porque não lhe manda mais detalhes:
 

“Somente mando à Vossa Alteza como estão situadas as estrelas, mas em que grau está cada uma não pude saber, antes me parece ser impossível, no mar, tomar-se altura de nenhuma estrela, porque eu trabalhei muito nisso e, por pouco que o navio balance, se erram quatro ou cinco graus, de modo que se não pode fazer, senão em terra “.

 
A competência e a história da carreira médica de Mestre João são desconhecidas, mas a descrição do Cruzeiro do Sul deve ser destacada como um importante feito na atuação do primeiro médico a pisar em solo brasileiro.

Os outros dois
Jorge de Valadares, primeiro médico diplomado a atuar no Brasil, veio integrando a comitiva do governador geral Tomé de Souza, exercendo o cargo de físico-mor em Salvador. Sabe-se muito pouco sobre esse profissional. É segura a informação de que recebia salário de 2.000 réis mensais e mais 40 réis para mantimentos. Assumiu o cargo em 1º de maio de 1549, exercendo-o até 1554. Faleceu três anos mais tarde.

Jorge Fernandes foi o sucessor de Valadares, ocupando o cargo de físico-mor de Salvador, sede do governo geral do Brasil. Veio com a comitiva do governador Duarte da Costa. Nomeado em 20 de abril de 1553, com ordenado um pouco melhor que seu antecessor (60 mil réis anuais), exerceu seu cargo até 1557, mas viveu, na Bahia, por muito tempo ainda, sendo perseguido pela Santa Inquisição por práticas da religião judaica, apesar de se apresentar como cristão-novo. Teve também problemas de relacionamento com o bispo Pedro Fernandes Sardinha.


Referências

1. Bueno, E. Brasil: terra à vista – A aventura ilustrada do descobrimento. Porto Alegre: L&M Pocket, 2003.
2. Simões, H. C. As cartas do Brasil. Ilhéus: Editus, 1999.
3. HTTP://anussim.org.br/os primeiros médicos em solo brasileiro


*Médico especialista em Reumatologia e Clínica Médica e coordenador da Câmara Técnica de Bioética do Cremesp


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